quinta-feira, 2 de julho de 2009

Conversas de ônibus

Hoje, estava eu a olhar para o teto, depois a tocar uma bateria imaginária, e por fim, pensar coisas totalmente sem sentido. Culpa do mal funcionamento do meu cérebro pela manhã.
Até que minha surpreendente animação matinal fez com que eu interagisse com alguém.
Pensei em falar sobre o tempo com o senhor que sentara ao meu lado.
Mas na hora falei apenas: bom dia.
No momento em que esse senhor respondeu, percebi a gravidade do erro que acabara de cometer. Não por ele ter mal hálito, nem por estar bêbado.
Mas sim por eu ter me sentido como um funcionário da central de atendimento da empresa de ônibus. Afinal, o senhor só fazia reclamar, reclamou de tudo. Do motorista até a calibragem dos pneus.
Pensei então que na falta de um bom dialogo com meu parceiro de viagem e na ausência de um i-pod, ouvir conversas alheias seria um passatempo bem razoável para tentar preencher o tédio de uma viagem de ônibus.
Rodei com os olhos todo o ônibus. Parei em duas mulheres de meia idade, uma sentada e a outra em pé.
A mulher de pé era a ativa, pois em toda conversa, só ela falava.
A mulher sentada era a passiva, pois só balançava a cabeça positivamente a cada 30 segundos, emitindo alguns “hum rum” de quando em quando.
Pois bem, parei pra ouvi-las, não era nenhum assunto extraordinário, porém, não me restavam muitas opções.
A mulher ativa contava com muito entusiasmo suas aventuras amorosas enquanto a outra balançava a cabeça positivamente.
Ela falava sobre as brigas que tivera com o marido, e com muito orgulho dava a entender que o vencia sempre.
Nessa hora imaginei se o seu marido não contava as mesmas histórias para um amigo, e com muito orgulho fazia parecer que vencia sempre.
Mas, descartei a possibilidade, era 09 da manhã, horário em que todos os homens falam apenas de futebol, isto é, quanto estão acordados.
Então voltei meus pensamentos a elas.
Perdi um bom tempo de conversa enquanto imaginava o marido dela contando as mesmas histórias com finais diferentes.
Quando voltei a acompanhar ela já estava contando como se conheceram, depois falou da profissão dos dois, do ciúme, de ligações estranhas, até que a nossa querida amiga passiva precisou descer do ônibus. Levantou-se e disse: - Tchau amiga, depois conversamos mais.
Foi sua primeira demonstração de interesse na conversa, e com isso, ela também descartou a minha teoria dela ser surda e muda, e da outra mulher estar apenas falando a esmo, falando por falar.
Enfim acabava minha única distração nessa longa meia hora de viagem.
Mas, era o final do Jardim botânico, já estava chegando.
Antes de descer ainda dei uma ultima olhada para o senhor do meu lado, e ele comentava comigo que o ônibus deveria ser amarelo e não azul.


Obs: Primeira crônica escrita por mim. Criei mentalmente no ônibus enquanto ia entorpecido pelo tédio.

2 comentários:

  1. Gostei das crônicas, você escreve bem. Já pensou em postar no site www.recandodasletras.com.br ? Lá é muito bom, eu posto minhas poesias lá.

    Abraçoss gostei do blog.

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  2. Bom, parabéns! Está muito bem escrito...
    Achei bem interessante, bom o que a senhora passiva estava fazendo é algo difícil de se encontrar hoje em dia, alguém que ouça.
    Muitas vezes somos bom em falar e esquecemos de escutar.
    Virei seu seguidor!

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